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SEMANA AZUL MARINHO E VERDE

A cidade esta cinza. A tempestade vai começar daqui a pouco. Já parei de ameaçar, não saio deste caos tão cedo. O meu trabalho é chato, odeio andar de carro, a vizinha não é simpática, o dinheiro esta curto mas o resto eu adoro. Coloquei na balança e vou continuar as minhas peripécias neste redemoinho de concreto. Arriscar a vida numa cidade pequena tem 99% de dar errado. Este comentário surge depois de me convidaram para trabalhar numa agencia a 300 km daqui.
O gato da Tati sumiu, ela esta depressiva, disse que vai parar de fazer suas bijuterias. Uma pena, era a forma eu imaginei dela melhorar de vida. Pensamos em comprar um gato novo mas é importante ela passar por um momento de luto. Pense comigo, se a cada animal que desaparecer da vida dela ela ficar irritantemente abalada, daqui uns dois bichinhos ela se mata. Ela vai superar, até porque o Jonas voltou com ela. Apoio moral e sentimental nessas hora são primordiais. A minha musculatura esta nada elástica. Várias dores espalhadas pelo corpo. O vizinho palpiteiro acha que é falta de exercício. Nesta fase da vida, discurso a favor dos exercícios físicos parecem piadas de mal gosto. Eles foram muito bem feitos quando era adolescente.
Na verdade estou desregulada, acordo em horários diferentes, almoço cada dia numa hora maluca, trabalho muito, ha momentos que eu nem sei pra quem eu trabalho. Isto realmente importa, preciso saber a qualidade que darei ao produto final. O que eu posso dizer? O Juarez apareceu esses dias, disse que precisava de uma grana, esta trabalhando numa peça de teatro com um ator super famoso. Não quis perguntar o nome e nem ele me disse quem é. Precisava da grana pois ia receber só semana que vêm. Dei 70 reais que tinha no bolso, esse ano caixinha de Natal nem pensar. Quando o dinheiro vai assim, dificilmente volta. Já perdi as esperanças com ele. Até que ele esta diferente, mais arrumado. O cabelo estava penteado, usava uma camisa xadrez, mas ele é o tipo de cara que precisa de uma pessoa pra mandar na vida dele. Pode ser uma esposa, uma mãe, uma madastra, seja quem for, sozinho é incapaz cuidar de si mesmo. Tem tanta gente que casa por causa disso, ele deveria entender a sua deficiência e arranjar logo uma noiva. Imagino quem poderia se apaixonar por ele. Dos meus conhecidos ninguém.
Daqui a pouco chega a massagista aqui em casa. De vez em quando eu me proponho alguns luxos. Você deve estar se perguntando como eu posso levar uma vida de pequenos luxos e continuar reclamando da falta de grana. Percebi já a algum tempo que tenho dificuldades em investimentos ao longo prazo, não vou trocar de carro ou comprar um apê tão cedo.Toda e qualquer economia fica direcionada a esses luxos. Graças a ele que anda consigo me manter uma pessoa lúcida. Aguardo novidades.

ML

O Café

A mãe dela confirmou que em pouco mais de duas horas estaria de volta. Fomos até o café da esquina para passar o tempo. Queria distrai-la com o bombom de chocolate que vendia no estabelecimento enquanto eu lia a critica do filme de estréia da semana. Por ser muito delicada e bastante atenciosa para uma criança comeu o bombom muito calmamente. Ela gostava de cheirar, lamber, brincar comia bem devagar o doce. Pelo contrario eu lia o jornal rapidamente, procurava adivinhar pelas frases iniciais a conclusão do artigo. A mãe dela ligou pra saber como estávamos, ela disse apenas gostoso, referindo-se ao bombom e não ao nosso encontro. Quando tinha a idade dela minha única lembrança é ter tomado café e nao ter gostado. O cheiro sempre foi encantador por isso quis experimentar. Meu pai reticente avisou que aquela bebida não era pra criança, eu insisti, bebi e desiludi. Insisto com o café mais como habito que qualquer outra coisa. Antes de nós despedimos ela me disse ao pé do ouvido que tinha gostado do passeio, na próxima vez quer tomar um pouco de café, para que eu coma o bombom bem lentamente.

É cada um que me aparece.

Já tinha acabado o desenho quando tocou o telefone.Era Marilia, uma antiga namorada que ligara por causa do meu aniversário na semana passada. A principio pura formalidade. Depois dos cumprimentos, ela insistia em falar sobre a sua vida amorosa. Confesso que não tinha o menor interesse. Ela era uma pessoa bacana, inteligente, bem dedicada aos amantes, um exemplo de funcionaria mas fazia um papel de ridícula ao desdobrar suas intimidades.
Com o passar dos minutos, percebi que ela queria mais do que os meus ouvidos, queria os meus conselhos também, a minha opinião sobre que rumo tomar. Fiquei preocupado, ela sempre foi uma pessoa decidida. Depois dela falar de três rapazes, o passarinho na gaiola decide a piar, senti uma vontade de desligar. Estava com sono, dia cansativo. Perguntei se poderíamos conversar outro dia. Ela se convidou a ir a minha casa. Fui cruel, disse que tinha visita, não poderia recebe-la naquela noite. Ela insistiu e acabou batendo na porta do apartamento. Ao descobrir que estava sozinho, sem muita explicações ou questionamentos deu me logo um beijo de mulher apaixonada na minha boca seca, não ha dúvida ela estava com algum problema sério.
Após o amasso, acabamos indo pra cama. Pela manhã, fiz questão de acordar cedo pra que ela não me viesse. Ledo engano. Ela já tinha preparado o café da manhã, com suco de laranja. Suspeitei que o pior estava por vir. Em seguida ela confessou que não gostava de nenhum daqueles caras, nas últimas semanas sentia-se muito só e a situação piorou depois que seu gato morreu ao pular da janela e do fora que levou da sua colega de trabalho. Toda aquela história pouco me interessava. Dei o telefone do meu terapeuta e fui tomar café na padaria.

Sexta Feira

Falta dez minutos para chegar o meu final de semana. Como todas as sextas feiras o dia foi morno. Só é resolvido casos de urgência. Mantenho a postura calma a espera do horário pra passar o cartão. Se o trabalho fosse cobrado pelo nosso rendimento não haveria necessidade de usar o cartão. O clima esta nada agradável. A Miranda disse umas poucas e boas verdades ao Martins que se julga o malandro e deixa de fazer o serviço direito. Segunda feira esse escritório precisa de uma faxina. Eu nao sei porque todos deixam o escritório tornar um lugar inabitável para depois providenciarem a limpeza. Também preciso comprar o pó do café, se depender do Francisco tomo a minha bebida predileta só daqui dois meses. Bonita a camisa do Bartolomeu, deve sair daqui direto pra encontrar a amante, ele terminou o casamento mas ainda gosta de tratar a moça como amante. Eu ainda nao sei como vou resolver a documentação segunda feira, preciso da assinatura de três pessoas que nao estão em São Paulo e nao faço a menor idéia onde possam estar. Bati o cartão. Vou embora pra casa depois de adoçar a boca com um chocolate. Nao tenho nada programado pro fim de semana.

Um caso de amor e ódio


Tínhamos combinado. Quem chegasse primeiro preparava a sobremesa. Quem chegasse por último, o jantar. Quase sempre perdia. Nem por isso deixava de fazer o café pra ela.

Na rua

Eles queriam dinheiro. Não tínhamos. Eles queriam um doce. Também não tínhamos. Um deles olhou para a nossa câmera, e pediu uma foto da turma. Deu no que deu.

Liberdade

Esta em perfeita ordem. Hoje é segunda, amanhã é terça e quarta o meu aniversário. Enquanto isso eu...

PASSEI BATIDO


Era 5 da tarde. Não havia almoçado.Tinha esquecido de colocar comida para nossa cadelinha Sofia. O telefone da Amanda não atendia. O menino na rua tomava o suco sem se preocupar. Que dia é hoje?

Estar em plena posse de suas faculdades mentais


Saiu de manhã de mal humor. Voltou a noite com um sorriso bem largo no rosto. O dia estava quente. Era noite fresca de lua cheia.


O encontro foi bem rápido. Ela tinha me pedido de volta o seu livro francês sobre receitas de doces. Já se passara um ano da última vez que a tinha visto. Não sei o que esperar dela. De óculos escuros e com poucas palavras, descobri que ela estava de partida para Berlim, sempre quis mudar do Brasil. Não deu muitas explicações, estava com a voz rouca. Quando nós separamos, ela estava com as malas prontas para ir embora. Era o motivo da nossa separação, ela queria ir, eu queria permanecer. O emprego da qual eu sobrevivo hoje foi graças ao contato feito por ela. No começo, eu não suportava trabalhar na agencia, hoje não imagino em outro lugar. De vez em quando, o silêncio me aperta contra a parede, eu ando de bicicleta, este foi seu último presente.

Pequenas histórias que não se esquece de repente




A minha mãe colou um apelido em mim que eu nunca gostei dele. Ninguém me chama mais pelo nome, só me chamam pelo apelido. Seja no trabalho, pelas minhas irmãs, pelo namorado ou pelos amigos. Pitu, é a forma que eu me chamam. É assim, que as pessoas me conhecem. Eu não sei porque minha mãe deixou na certidão de nascimento Capitu. É possível uma mãe se arrepender do nome da filha?


Quando eu tinha 6 anos, eu tinha um gato chamado Tobias. Muitos dos meus segredos foram compartilhados com ele. Certo dia, em vez de confessar ao Tobias preferi me dedicar a escrever-los no meu blog. Talvez quisesse mais público com o meio. Enquanto escrevia podia acompanhar Tobias andando pelo muro. Passaram umas semanas, e Tobias sumiu. Ninguém tinha notícias dele. Minha mãe me disse que ele estava doente, seu xixi não estava com uma cor boa. Nunca mais soube de Tobias. Continuo a escrever no blog, porém bem raramente.


Estácio é um homem fora de série.O tempo na vida dele parece se multiplicar. Ele acorda cedo, leva os filhos para a escola, leva o cachorro para passear, faz compra no supermercado, trabalha 12 horas por dia, conta história para as crianças deficientes (trabalho voluntário), vai a igreja, faz aula de francês, auxilia as tarefas das crianças, prepara suas aulas que acontecem as terças e quintas e lê o último romance do Chico Buarque. Ele nunca se queixa do cansaço. Nunca disse estar feliz. O importante é que tudo esteja pronto.