Pages

Os calos eram nas mãos

Usou os sapatos que tinha ganhado do amante. Usou de forma vingativa ao seduzir outro. Sentiu prazer na cama, vingança cumprida. Sapatos jogados fora. No escritório, a dor no pé era intensa e passou o dia sentada. 


Quinta feira depois do aniversário


Acordou cedo, visitou toda a família se gabando das imperfeições da vida. Almoçou como um rei. Achou graça do arroto do afilhado. Engasgou com uma cocha de frango. Internado no hospital em estado grave promete entrar no regime semana que vem.

Vira casaca



Sinopse: Jorge decide torcer para o Japão na final da Copa das Confederações. Segundo  ele os jogadores brasileiros são muito convencidos. Arnaldo fica revoltado com a posição de Jorge.

Na sala de estar, Jorge esta de frente a TV vestindo a camiseta da seleção do Japão. Ouve-se o burburinho do inicio do jogo.

Jorge: O jogo vai começar Arnaldo, vem rápido.

Chega Arnaldo.

Arnaldo: O que você esta fazendo com a camiseta do Japão?

Jorge: Vou torcer para os japoneses hoje.

Arnaldo: Ficou maluco? Qual é o seu problema?

Jorge: O Brasil não dá. Se a gente ganhar vamos achar que o Brasil fez tudo certo. Nosso time é uma porcaria, esse povo é muito convencido.

Arnaldo pega uma cerveja na mesa de centro, entre a TV e o sofá onde eles sentam.

Arnaldo: Você ainda ta comendo aquela japonesa? Só pode ser por isso que virou a casaca.

Jorge: Ela foi embora semana passada. Nem deu tchau.

Arnaldo:  Você quer que eu arrumo a Priscilinha para você esquecer essa japa? Em um minuto você vira brasileiro  e decora o hino nacional.

Jorge: Os japas merecem. É o jogo da vida deles. Olha lá os brasileiros, parece modelos desfilando na passarela.

Arnaldo: Jorge, você se acha melhor que todo mundo. Queria ver em 94, em 2002 se usaria essa camiseta. Tudo bem que nosso time é uma merda, mas vamos torcer. Nosso país fala português. Você não sabe uma palavra em japonês.  

Jorge: Eu sei que tem terremoto lá. A minha homenagem ao povo japonês.

Arnaldo: Podia ser a Itália, Alemanha, Espanha. Agora, o Japão? Vai torcer para o pior time.

Jorge: Os caras nunca ganharam uma Copa, precisamos dar uma ajuda para eles. A minha atitude é uma forma de democratizar o futebol. Se cada time de um continente diferente ganhar uma Copa nosso penta será mais valorizado.  

Arnaldo fica furioso, desliga a TV com o controle.

Arnaldo: A brincadeira acabou. Vai lá na japonesa da mercearia assistir o jogo com ela. Aqui é Brasil.

Jorge: Que isso Arnaldo? Que ignorância é essa? É só um jogo.

Arnaldo: Jogo é o caralho. Não tenho nada haver em democratizar o futebol. Onde já se viu esporte democratizar algum coisa. Vai, vai, vai, vai rápido. E não me venha com essa camiseta japonesa quando acabar o jogo.

Jorge: Eu pensei que nós éramos amigos, parceiros. A gente vive num país democrático.

Arnaldo: Vai embora antes que o jogo comece. Que palhaçada é essa? Ta pensando o que? Aqui não é o samba do criolo doido não. O mínimo de respeito, sou brasileiro, porra.  

Jorge: Você esta cometendo um grande erro na sua vida. Você esta me censurando. Tenho direito da liberdade de expressão.

Arnaldo (empurrando o amigo): Vai para a casa do chapéu com a sua liberdade de expressão. Isso aqui é futebol, não é discussão da ONU sobre direitos humanos. Quer torcer contra, vai lá pra mercearia.

Jorge: Perai Arnaldo, vamos negociar. Sabe aquele dinheiro que você me deve? Aquele do mês passado?  Não precisa pagar não. Fica de presente. Mas dai assisto o jogo aqui.

Arnaldo:  Não devo mais nada? Esta tudo certo? 0 a 0 entre nós.

Jorge: Tudo certo.

Arnaldo: Qual é o nome mesmo do atacante japonês?

Dia do Meio Ambiente

  
Homem cidade, homem selvagem. Animais. Somos todos vizinhos. O horizonte é o mesmo. Se faltar luz será para todos. Vivemos no mesmo meio nem sempre no melhor ambiente.



Prostituta

O governo deu um passo atrás ao tirar do ar a campanha de incentivo ao uso de preservativo por parte das prostitutas. Todos nós sabemos que elas são uma realidade.Já não basta não terem seus direitos de profissão reconhecidos, agora querem negar a sua existência? O governo deveria rever a sua posição se realmente quer zelar pela saúde da sua população. Porque elas não podem ser felizes?

De quarta para quinta


Jessica tem uma sensação que o encontrou o amor da sua vida. Ela não sabe se foi pura imaginação, se realmente estava bêbada/drogada ou realmente encontrou com o seu príncipe encantado.  

Orgasmo



Se fosse antigamente seria um ato feminista.
Hoje é uma provocação aos homens que não conseguem satisfazer suas parceiras.
Fique esperto, meu irmão.

Dicionário

História - um saco de problemas em busca de um sentido.

Herói - um otimista inconsequente.

Antagonista - uma pedra no meio do caminho.

Ação - uma forma do tempo passar.



Rotina, de repente.

Roubaram um pouco de mim, sobrou espaço para novidades.
Assim chegaram: um humor diferente, uma pedra nova, um cheiro inusitado, uma cantada sem pé nem cabeça. Suspirei.
Esqueci uns rascunhos e comecei a escrever de novo. Aprendi que quase tudo o que escrevo são rascunhos, o resto é impublicável.
Muito tempo no mesmo lugar, muitos xingamentos, olhei muito para fora e nenhuma piscada para dentro de mim.
Abro a latinha, assustei, caiu. Vejo escorrer o liquido espumoso escorrendo pela sargeta.

Livros que carregamos

Não se fazem livros como antigamente. Não falo sobre a qualidade do material de que eles são feitos. Conto as expectativas geradas antes do livro chegar nas mãos do leitor. Para quem morou no interior sabe do que eu estou falando. Você só tinha acesso a eles quando alguém de fora o trazia ou vinha com notícias a respeito do próprio. Quando ouvia-se falar, o leitor futurista já imaginava o que naquelas folhas poderiam estar escrito. Se lia antes mesmo de ter os livros nas mãos. Livro era algo caro, como na maioria das vezes. Em muitos casos era preciso entrar na fila de leitores pois havia apenas um exemplar. A biblioteca poderia ser a salvação, só que a disputa era acirrada. Os livros eram objetos raros que deviam ser guardados com cuidado em locais seguros, de preferência distante da umidade e do Sol. 
Uma vez um tio me disse que quando voltasse de viagem traria um livro sobre uma menina que vagava por um mundo dos sonhos onde encontrava muitos animais pelo caminho. Não sei porque me lembrei da Arca de Noé. Em poucos dias descobri que se tratava de um livro considerado infantil que para mim dizia mais para os adultos do que para crianças, era Alice no país das maravilhas. Quando releio o livro,  lembro de quando eu ganhei o livro, lembro do meu tio, lembro do Coelho Branco que me remetia a um amigo chato do colégio. 
Hoje raramente compro livros, não sei se por falta de tempo, por falta de espaço ou porque tenho pouca paciência com eles. Creio mesmo que com o passar do tempo perdi a imaginação despretensiosa que vinha com a espera daqueles escritos vindos da capital. 

Quer me encontrar, entra na rede


Não ha quem não ficasse abalado na família Rezende naquele 16 de abril. Naquele dia Tainá sofreu um sequestro relâmpago e nunca mais foi a mesma. Foram cinco intermináveis horas nas mãos dos sequestradores que só queriam dinheiro e o celular dela. Apesar de ser apenas uma adolescente Tainá não se desesperou e saiu do ocorrido sem nenhum arranhão. Apesar de tudo, evitava passar na rua onde foi apanhada pelos sequestradores.
            A vida de Tainá depois de um mês do ocorrido efetivamente tinha sofrido uma revolução. Antes era uma menina cheia de amigas, se envolvia em várias atividades na escola, quase não parava em casa. Agora, trancava-se no quarto e pouco era conhecido suas particularidades. Jussara, a mãe, queria saber se a mudança de comportamento poderia ser provocada pelo sequestro, suspeitava síndrome do pânico ou algo semelhante. Tainá se defendia colocando a culpa nos estudos. Foi então, que sua mãe foi atrás de uma psicóloga imaginando que pudesse ajuda-la a se livrar de algum transtorno.
            Passados alguns meses Tainá continuava passar longos períodos enfurnada em seu quarto, dispensava os primos, os irmãos, os país, e todos que conviviam ao seu redor. Deixava de ir a academia e refutava qualquer atividade de durasse mais de meia hora fora de casa. Jussara decidiu questionar a psicóloga preocupada com a situação. A profissional respondeu que nunca tinha visto uma menina tão de bem com a vida como Tainá. A psicóloga não quis comentar muito a respeito da paciente mas confirmou que a vida da adolescente mudou para melhor depois do sequestro.
            O Jussara desconhecia que Tainá tinha migrado por completo a sua vida para o meio digital. Diante do computador, ele convivia com as amigas, namorava, contava histórias, brincava e até cantava, algo que nunca tinha feito diante de uma plateia próxima. Ainda que não entrasse no quarto pois quase sempre estava fechado Jussara ouvia através da porta boas risadas da filha, o que significava que ela relativamente estava bem, apesar de sozinha.
            Como o tempo Tainá sairia o menos possível de casa. Já tinha esquecido por completo o sequestro e sua vida resumia ao seu pequeno quarto. Ela até comprou uma bicicleta ergométrica onde poderia ver os amigos enquanto queimava as calorias.
            Na tentativa de mexer com a filha Jussara sugeriu que fizessem uma viagem. Tainá gostou imaginando que fosse acessar um site específico de viagem onde se aventurasse como turista sem coloca o pé fora de casa. Quando ela descobriu que a proposta feita pela mãe precisaria arrumar malas, comprar passagens, passar longas horas dentro do avião, andar bastante, Tainá odiou a ideia e preferiu ficar. Ela defendia o meio virtual como uma forma de estar no mundo. Só ali que ela se encontrava, fora dali tudo não passava de rascunhos.
            Mesmo vendo que a filha se alimentava direito, dormia regularmente, Jussara não se conformava com a situação. Dispensou a psicóloga. Tainá recebeu a notícia com indiferença.
            Não sabendo o que fazer para tirar Tainá desse estado de isolamento social Jussara decidiu contratar uma investigador para vigiar o que se passava com ela na internet. Ela temia que alguém a controlava por meio da rede, tinha medo de aliciadores de menores. Até imaginava a hipótese de uso de drogas por parte da filha. O detetive teve acesso a tudo o que Tainá acessava e nada indicava que tivesse algo fora do normal para uma adolescente.
            Depois de muitas tentativas frustradas Jussara percebeu que a sua filha adotou um estilo de vida e se quisesse conviver com ela teria que fazer parte do meio em que estava inserida. Foi então que Jussara decidiu ser uma internauta de forma mais substanciosa. Tainá aprovou a iniciativa. Após 4 meses nunca mais Jussara foi a mesma.