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Aquele fim de ano

A fila era de assustar. Ultimo dia do ano, calor intenso. Como sempre deixamos para a ultima hora as compras do supermercado. Tinha esquecido do tumulto, pra mim isso era comum apenas nas praias e nas estradas a véspera do ano novo. Na verdade, ninguém quer ficar em casa, como não ha muito o que fazer, vamos as compras. Fui comprar umas cervejas, bem próximo de mim, encontrava-se uma mulher com seus 40 e poucos anos. Ciente que qualquer nervosismo pioraria a situação esperava o caminhar da fila sem qualquer incomodo. Permanecia em um estado de paciência, com uma fisionomia de uma pessoa experiente. Sua pele morena demonstrava uma vitalidade que no momento parecia hibernada. Ela comprou um saquinho de amêndoas e um pote de sorvete. Muito pouco diante do sacrifício da fila. Andava devagar pois já sabia que daquele horário até a virada faria muito pouca coisa útil. A sobrinha de ora em ora tecia algum comentário e ela com poucas palavras cumpria o diálogo com a menina. Eu percebi que aquela mulher passava por um instante de reflexão, ouvindo seus próprios pensamentos, talvez fazendo uma retrospectiva do ano, talvez supondo possibilidades do ano a seguir. Parecia que aquele réveillon seria simplesmente uma passagem de ano, sem muito entusiasmo. Eu olhei para minha cerveja, meu refresco para o fim de tarde e vi que mais um ano tinha passado, lembrei aquele dia no ano passado, almoçava com uns primos em um restaurante capenga na beira da areia. Cada um seguiu o seu rumo e eu decidi passar a virada na metrópole. A mulher madura, talvez tivesse pensando nos seus tempos de juventude, já sabia que a pressa não a levaria muito longe. Estava esquecendo da minha lista de pedidos, ela estava mais preocupada com o sorvete derreter naquele calor.

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