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Quer me encontrar, entra na rede


Não ha quem não ficasse abalado na família Rezende naquele 16 de abril. Naquele dia Tainá sofreu um sequestro relâmpago e nunca mais foi a mesma. Foram cinco intermináveis horas nas mãos dos sequestradores que só queriam dinheiro e o celular dela. Apesar de ser apenas uma adolescente Tainá não se desesperou e saiu do ocorrido sem nenhum arranhão. Apesar de tudo, evitava passar na rua onde foi apanhada pelos sequestradores.
            A vida de Tainá depois de um mês do ocorrido efetivamente tinha sofrido uma revolução. Antes era uma menina cheia de amigas, se envolvia em várias atividades na escola, quase não parava em casa. Agora, trancava-se no quarto e pouco era conhecido suas particularidades. Jussara, a mãe, queria saber se a mudança de comportamento poderia ser provocada pelo sequestro, suspeitava síndrome do pânico ou algo semelhante. Tainá se defendia colocando a culpa nos estudos. Foi então, que sua mãe foi atrás de uma psicóloga imaginando que pudesse ajuda-la a se livrar de algum transtorno.
            Passados alguns meses Tainá continuava passar longos períodos enfurnada em seu quarto, dispensava os primos, os irmãos, os país, e todos que conviviam ao seu redor. Deixava de ir a academia e refutava qualquer atividade de durasse mais de meia hora fora de casa. Jussara decidiu questionar a psicóloga preocupada com a situação. A profissional respondeu que nunca tinha visto uma menina tão de bem com a vida como Tainá. A psicóloga não quis comentar muito a respeito da paciente mas confirmou que a vida da adolescente mudou para melhor depois do sequestro.
            O Jussara desconhecia que Tainá tinha migrado por completo a sua vida para o meio digital. Diante do computador, ele convivia com as amigas, namorava, contava histórias, brincava e até cantava, algo que nunca tinha feito diante de uma plateia próxima. Ainda que não entrasse no quarto pois quase sempre estava fechado Jussara ouvia através da porta boas risadas da filha, o que significava que ela relativamente estava bem, apesar de sozinha.
            Como o tempo Tainá sairia o menos possível de casa. Já tinha esquecido por completo o sequestro e sua vida resumia ao seu pequeno quarto. Ela até comprou uma bicicleta ergométrica onde poderia ver os amigos enquanto queimava as calorias.
            Na tentativa de mexer com a filha Jussara sugeriu que fizessem uma viagem. Tainá gostou imaginando que fosse acessar um site específico de viagem onde se aventurasse como turista sem coloca o pé fora de casa. Quando ela descobriu que a proposta feita pela mãe precisaria arrumar malas, comprar passagens, passar longas horas dentro do avião, andar bastante, Tainá odiou a ideia e preferiu ficar. Ela defendia o meio virtual como uma forma de estar no mundo. Só ali que ela se encontrava, fora dali tudo não passava de rascunhos.
            Mesmo vendo que a filha se alimentava direito, dormia regularmente, Jussara não se conformava com a situação. Dispensou a psicóloga. Tainá recebeu a notícia com indiferença.
            Não sabendo o que fazer para tirar Tainá desse estado de isolamento social Jussara decidiu contratar uma investigador para vigiar o que se passava com ela na internet. Ela temia que alguém a controlava por meio da rede, tinha medo de aliciadores de menores. Até imaginava a hipótese de uso de drogas por parte da filha. O detetive teve acesso a tudo o que Tainá acessava e nada indicava que tivesse algo fora do normal para uma adolescente.
            Depois de muitas tentativas frustradas Jussara percebeu que a sua filha adotou um estilo de vida e se quisesse conviver com ela teria que fazer parte do meio em que estava inserida. Foi então que Jussara decidiu ser uma internauta de forma mais substanciosa. Tainá aprovou a iniciativa. Após 4 meses nunca mais Jussara foi a mesma.


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